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O COTIDIANO

A magia de um dia após o outro
Encanta meus olhos
E saboreio com o olhar de tudo
A simplicidade do vai e vem
Do sol e da lua
Do claro e do escuro
Da pele sedosa
Das rugas que teimam
Em pintar o tempo nas coisas.

ERRO

Errar é como atropelar
O espaço
O tempo
Os pensamentos
Que insistem em atravessar
A contra mão do tempo
Errar é atravessar
Distraidamente
As palavras dispersas.



DÚVIDA

Um texto
Textura
Um doce
Rapadura
Um beijo
Desejo

Mas é contra mão!
Estou perdido
Na contra direção

Chega o inverno
Que deita cobertores
Em minha alma
E eu?
Não sou mais
Do que uma criança
A comer rapaduras
Atrás da porta
Que porta?
Aquela do jardim
Atrás da casa
Qual casa?
Qual tempo?


LEMBRETE

Não se esqueça de nada
Das roupas
Dos livros
Dos recados
Das pequenas coisas
Dos detalhes
Mais ínfimos
Mais íntimos

São eles que dão sentido
Ao nosso cotidiano
Aos dias
Aos anos
De nossa breve
Mas infinita
Vida.


A MORTE


Como é frio e solitário
O nosso último ato
É de solidão completa
Nenhuma companhia

Fecham-se as cortinas
Apagam-se as luzes
E ninguém espera
Os últimos ais dos mortos

Ficam só na escuridão
Sem luz e sem companhia
Sem cobertores e sem livros
....

Os mortos não precisam de nada
E nos, vivos, precisaremos de tudo
Enquanto eles adormecem
No sonho eterno
Nós prosseguimos
Bebendo
Lendo
Cantando
Amando
Esperando
Esperando...
O tempo das tardes eternas
Sem por do sol
Sem amanhecer
Um tempo sem tempo
Que fica do outro lado
Do lado do lado de lá
Dos calendários.

Comentários

  1. Olá, Renato. Gosto de ler seus poemas. O tempo das tardes eternas é o tempo da poesia. Não esmoreça. Escrever é gravar na areia da eternidade a marca da nossa passagem.
    Abraços do Brandão.

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