FLAVIO VIEIRA DE SOUZA
Encontrar o Prof. Flávio pelos corredores da faculdade era sempre surpreendente. Tinha sempre um repertório novo de anedotas que contava como se fosse um adolescente e soltando sonoras gargalhadas. Ria de modo a ouvir-se de longe, brincava com ele parodiando o poeta português Fernando Pessoa.
Além das anedotas, gostava também de poesias e em uma oportunidade me parou no corredor para declamar um longo e pouco conhecido poema de Pessoa. A sua memória era prodigiosa lembrando e saboreando cada verso, cada palavra como se estivesse lendo.
Era sempre o mestre de cerimônias dos eventos da instituição, encerrando os trabalhos com humor e graça, fazendo trocadilhos espirituosos e inteligentes ou mesmo transformando em anedotas algum fato recente.
A última vez que nos vimos, estava muito pálido e já falava com dificuldade. Conversamos alguns minutos e percebi que as suas forças estavam se esvaindo, mas continuava irônico e brincalhão. “Só dói quando eu rio”, teria dito antes de nos despedirmos. Provavelmente sentia dor sempre porque continuava brincando e rindo da vida, apesar dos seus graves problemas de saúde. A doença há alguns anos, vinha consumindo a sua vitalidade, mas como era um homem otimista e de muita fibra, não se deixava abater e continuava a sua jornada encarando a vida como uma missão que deve ser cumprida até o último minuto.
Nesta madrugada seu corpo não resistiu ao longo sofrimento e deixou a vida e muita tristeza para todos que o amaram e que tinham sempre o conforto de sua alegria e sabedoria. Sua sala estará vazia, mas os seus livros estarão esperando por quem os leia novamente e dêem vida às palavras frias espalhadas por milhares de folhas de papel. Grande parte do que leu estará lá na sua estante, mas cada novo leitor reconstruirá seu conhecimento do seu modo, diferente do jeito dele de ser, de interpretar o mundo, o passado e o futuro.
Enfim, o mundo não se repete e os homens e mulheres também não. Ao partir para a sua última viagem em outra dimensão, o nosso querido professor Flávio deixa muitas saudades, mas também bons e alegres momentos dos quais nos relembraremos enquanto durar a centelha de nossa breve passagem pelo planeta azul que não será o mesmo depois dele. Alguma coisa mudou.
Renato Ladeia
16 de março de 2008
Encontrar o Prof. Flávio pelos corredores da faculdade era sempre surpreendente. Tinha sempre um repertório novo de anedotas que contava como se fosse um adolescente e soltando sonoras gargalhadas. Ria de modo a ouvir-se de longe, brincava com ele parodiando o poeta português Fernando Pessoa.
Além das anedotas, gostava também de poesias e em uma oportunidade me parou no corredor para declamar um longo e pouco conhecido poema de Pessoa. A sua memória era prodigiosa lembrando e saboreando cada verso, cada palavra como se estivesse lendo.
Era sempre o mestre de cerimônias dos eventos da instituição, encerrando os trabalhos com humor e graça, fazendo trocadilhos espirituosos e inteligentes ou mesmo transformando em anedotas algum fato recente.
A última vez que nos vimos, estava muito pálido e já falava com dificuldade. Conversamos alguns minutos e percebi que as suas forças estavam se esvaindo, mas continuava irônico e brincalhão. “Só dói quando eu rio”, teria dito antes de nos despedirmos. Provavelmente sentia dor sempre porque continuava brincando e rindo da vida, apesar dos seus graves problemas de saúde. A doença há alguns anos, vinha consumindo a sua vitalidade, mas como era um homem otimista e de muita fibra, não se deixava abater e continuava a sua jornada encarando a vida como uma missão que deve ser cumprida até o último minuto.
Nesta madrugada seu corpo não resistiu ao longo sofrimento e deixou a vida e muita tristeza para todos que o amaram e que tinham sempre o conforto de sua alegria e sabedoria. Sua sala estará vazia, mas os seus livros estarão esperando por quem os leia novamente e dêem vida às palavras frias espalhadas por milhares de folhas de papel. Grande parte do que leu estará lá na sua estante, mas cada novo leitor reconstruirá seu conhecimento do seu modo, diferente do jeito dele de ser, de interpretar o mundo, o passado e o futuro.
Enfim, o mundo não se repete e os homens e mulheres também não. Ao partir para a sua última viagem em outra dimensão, o nosso querido professor Flávio deixa muitas saudades, mas também bons e alegres momentos dos quais nos relembraremos enquanto durar a centelha de nossa breve passagem pelo planeta azul que não será o mesmo depois dele. Alguma coisa mudou.
Renato Ladeia
16 de março de 2008
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