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É POSSÍVEL UM SOLOCASAMENTO?


É realmente muito estranho, mas uma moça de Minas, chamada Jussara casou-se com ela mesma. Evidentemente não houve igreja ou o pai com seu melhor terno, levando-a para o altar, pois nenhuma igreja aceitaria tal cerimônia. Segundo consta, ela se casou ao ar livre, em meio aos passarinhos e borboletas num ambiente natural.
Jussara, 38 anos, apaixonada por ela mesma e comprometendo-se a passar o resto dos seus dias em sua própria companhia, selou a união que será para sempre até que a morte as ou os separem. Alguém deve ter perguntado a ela: "Você Jussara concorda em receber como esposa ou como esposo o seu outro lado?" Ao dizer sim, selou-se o auto matrimônio ou solo casamento ou selfcasamento.
A psicologia dirá que se trata de caso raro de egocentrismo e que a Jussara precisaria se tratar fazendo um bom número de sessões de análise para corrigir um desvio de personalidade. Os sociólogos dirão que se trata de uma ruptura com a convivência social e que é preciso reconhecer o direito das pessoas se recusaram a juntar os lençóis com outra. Os advogados dirão que temos um nome problema jurídico em caso de separação dos selfs. Quem ficará com os bens em caso de separação? E se a Jussara adotar ou tiver um filho por inseminação artificial, quem se responsabilizará pela educação e sustento da criança? Os poetas poderão dizer: "Que seja eterno enquanto dure". e os filósofos? Chamado um para opinar, esse dirá: "To be or not to be, that is the question", num plágio descarado do velho bardo inglês.
Como bom brasileiro e desencanado de tudo, a história me faz exumar uma velha anedota em que dois amigos inseparáveis combinam que depois que um deles morresse, o outro continuaria tomando os mesmos drinks diários no bar em frente ao escritório e relembrando os velhos papos de outrora.
Se tudo deu certo em Belo Horizonte no último domingo e ela foi internada a pedido da família., ela e a outra partiram para a tão esperada lua de mel. Antes da viagem ainda teria passado uma descompostura numa convidada que se atreveu a dizer: “Muito bem Jussara, antes só do que mal acompanhada”. “Fique sabendo que estou muito bem acompanhada comigo mesma e não estou sozinha”, seria a boa resposta para a imprudente amiga.
E assim aconteceu. João teve um súbito ataque cardíaco e viajou para a terra do nunca. O José, após a morte do amigo, continuou seguindo o mesmo ritual depois do expediente. Passava no bar e pedia duas doses. Uma para ele e outra para o João. Um dia ele chegou ao bar e pediu apenas uma bebida. Ante a surpresa do barman, ele respondeu: "Parei de beber".
E algo semelhante pode acontecer com a Jussara. Numa manhã ensolarada ela acorda meio confusa e se dirige para a outra ela mesma e diz: " Me cansei de você. Quero viver sozinha".
Os amigos e familiares precisarão consolar a moça, que poderá verter baldes e baldes de lágrimas pela separação. Caso a depressão pós-separação seja muito forte, poderá ocorrer até o suicídio. Neste caso, quem morrerá? Ela ou a outra?




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