QUAL É A MÚSICA DO
CHICO QUE VOCÊ MAIS GOSTA?
Um velho amigo fã
incondicional do Chico Buarque fez uma enquete com várias pessoas do seu
relacionamento para saber qual era a música preferida composta pelo grande
compositor. Parecia fácil, mas qual o
quê; todos vacilaram na escolha, pois seria mais simples escolher algumas das
melhores. Não podia. Tinha que ser apenas uma, era um tiro só e não podia errar
nem se arrepender. Diante da pergunta fiz um retrospecto geral na obra do
compositor e optei por uma bela canção que ele fez com o Edu Lobo, Beatriz.
Por
que escolhi a Beatriz, uma das muitas canções que o Chico dedicou a um nome de
mulher? Depois de Carolina, Januária,
Cristina, Joana Francesa e por aí vai, Beatriz, composta para o espetáculo
Circo Místico, para mim foi a mais bela letra ou um dos mais belos poemas da
música popular brasileira. Há quem diga que ele escreveu para a sua ex, a
Marieta Severo. Bom seria se não fosse, para tão grande amor, tão curta a vida.
Escolher
uma única música preferida é uma opção difícil, ainda mais de um compositor de
uma extensa obra, construída durante mais de cinquenta anos. Mas existem
algumas músicas que são marcantes em nossas vidas, como aquelas que dançamos
como a primeira namorada ou com a cara metade com a qual nos comprometemos a
passar o resto dos nossos dias, mesmo que isso não tenha sido possível. Músicas
que ouvimos junto com os velhos companheiros de juventude, em épocas difíceis,
quando precisávamos tomar decisões importantes em nossas vidas. Algumas músicas
ligadas a filmes que nos emocionaram profundamente e ficaram em nossas memórias
e nos tocam sempre que ouvimos. Particularmente, lembro-me com saudades da
música “Sempre aos domingos”, numa versão de uma canção francesa que tocava no grupo
escolar do bairro lembrando a criançada que estava na hora de ir para a escola.
Essa música me emociona, transportando-me para a infância em um bairro de
subúrbio.
Alguns
amigos escolheram canções de protesto, como Apesar de Você, mesmo que o Chico
nunca tenha escrito letras de contestação declarada. Ele sempre preferiu ser mais
sutil em suas críticas ou como ele mesmo disse: “Ser objetivo subjetivamente”.
Essa canção foi marcante na época, pois conseguia criticar o regime militar de
forma indireta, lembrando que o poder é efêmero, que as coisas mudam e sempre
depois da noite surge um novo dia de esperanças de liberdade. Muitas pessoas
cantavam o samba sem entender o seu sentido implícito, acreditando que era o
desabafo de alguém desprezado pela mulher amada, mas que também podia ser isso,
pois a canção tem duplo sentido.
Outras
dezenas de belas canções do Chico foram lembradas no momento da escolha, como
aquelas compostas para a peça "Calabar, elogio a traição". Com
relação a essas, para mim ficou sempre a dúvida se o Chico participou das
letras, pois foram feitas em parcerias com o poeta e dramaturgo lusitano Ruy
Guerra, que ficou esquecido em razão da idolatria ao nosso grande compositor. Pode
ser que o Chico deu uns palpites para ajustar as frases das letras às frases
musicais, mas para mim a maioria das letras tem a cara do Ruy.
Enfim,
todos escolhemos as nossas canções preferidas ou mais preferidas ou aquelas que
foram lembradas no momento da pergunta. E não valia mudar de música depois.
Escolheu e acabou. Mas ficou a intrigante pergunta que todos fizeram a ele:
“Por que?” Ele não respondeu e apenas dizia: “Escolha a preferida e pronto”.
Tempos depois, recebi um telefonema e ouvi a canção Beatriz. Depois da música,
a voz amiga desejando um feliz aniversário, cuja data eu nem estava lembrando. Ah
como foi bom lembrar-se da data natalícia com uma bela canção do Chico! Evoé
meu amigo.
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