Para os paulistas, as festas juninas são festas de caipiras, capiaus, matutos. Nestas festas os homens das cidades se vestem com calças remendadas nos joelhos e as camisas nos cotovelos, botinas e chapéus de palha. As mulheres usam vestidos de chita rendados, tranças e também chapéus de palha. É um velho estereótipo de que o pessoal do interior se veste mal, é acanhado e não trata dos dentes. São as velhas tradições que foram ficando no imaginário popular.
Neste tipo de festança não pode faltar a tradicional fogueira que tem sua origem no solstício de verão das populações do norte da Europa, que acendiam o fogo para reverenciar os seus deuses pagãos. E tem também a quadrilha, uma dança de salão, também européia, que foi trazida para os trópicos pelos franceses. Tudo muito bem arranjado, num sincretismo que envolve várias culturas: o caboclo, resultado da miscigenação de portugueses com índios, dança da aristocracia francesa e tradições celtas.
No nordeste as festas juninas ganharam outra dimensão. São festas tão importantes que superam o Natal e Ano Novo do Sudeste e Sul. Essas festas são tão relevantes para a cultura local que mesmo as empresas do sul que se instalaram por lá tiveram que se adaptar a esse costume tradicional e guardar os feriados.
Estou escrevendo sobre as festas juninas porque me bateu uma lembrança saudosa dos tempos de juventude, quando a nossa turma resolveu comemorar, com alguns requintes, essas festanças. Naqueles bons tempos queríamos estar sempre juntos para conversar e cantar. Não faltavam bons tocadores de violão, compositores bissextos e poetas. Um deles, Dédo Thenório, escreveu uma bela marchinha junina, chamada Estrelinha brilhante e lançou um desafio: a partir do próximo ano vamos fazer um festival sobre as festas juninas e quero ver todos participando.
O desafio foi aceito e a partir daí virou a festa junina da turma virou uma grande produção cultural. Um grupo era encarregado dos comes e bebes, outros da arrumação e do festival. As primeiras, de uma série de quinze festas aconteceram na casa do Silvio, o cabrunco, que tinha um grande quintal ao lado de sua casa. Foram grandes e inesquecíveis festas, com belas canções e marchas-rancho da melhor qualidade. Juntavam-se músicos como Oscar de Vito, Saulo de Tarso, Zeca da Silva, João Cristal, Dedo Thenório (autor de Estrelinha brilhante),Carlinhos Kalunga, Celinha e suas irmãs e letristas como Sinésio Dozzi Tezza, Erasmão entre outros e produziam belas peças musicais, sempre sobre os balões que coalhavam os céus de São Paulo, fogueiras, bandeirolas, comidas típicas etc. Em cima da hora era escalado o jurado que nem sempre era muito imparcial na hora de julgar, pois todos acabavam se envolvendo nas disputas de acordo com as preferências e a maior ou menor intimidade com os autores. Os membros do juri que ouvia as músicas antes acabavam quase sempre cooptados, o que não chegava a criar problemas, mas mais emoções na competição. Um dos compositores, dos bons, chegou a jogar o troféu no meio do mato porque julgou que o terceiro lugar era incompatível com a qualidade de sua canção, que realmente era muito boa. Coisas de festival.
Aqueles que não compunham participavam de outra forma, organizando concursos de balões, mesmo sendo proibidos. Entre eles estavam sempre o Silvio, Jorge, Chivas, Saulo e Zorba que se esmeravam na confecção de belos e coloridos balões que enfeitavam a noite se confundindo com as estrelas do céu, como cantou o nosso amigo poeta.
Surgiu também outro grande problema: a festa foi aumentando de tamanho, pois todos queriam trazer outros amigos e parentes para participar do evento. Com o tempo foi preciso alugar até sítios para acomodar todo mundo. Com a chegada de pessoas estranhas ao grupo original, começaram a ocorrer vaias na apresentação das músicas, o que era um sacrilégio para os seus idealizadores. Além disso, a perda do controle sobre quem participava, chegou até a gerar umas desinteligências. Infelizmente havia chegado o momento de encerrar o ciclo de quinze anos de festas juninas. Outro motivo, também muito forte, é que o festival, criado com a finalidade das pessoas mostrarem sua arte, virou uma forte competição que poderia até ameaçar a harmonia de um grupo de amigos que se relacionavam há muitos anos.
A festa acabou, o povo sumiu e tudo mofou, mas quem quiser ainda pode acessar o endereço no Google: “Arquivos do Dedo” onde é possível encontrar as belas canções sobre temas juninos, como “O Pau” de Dedo Thenório, “Não Soltem balões” de Oscar de Vito e Sinésio Tezza, “Conta Brasil” de Zeca da Silva e Dedo entre tantas e tantas outras.
Que saudade!
Renato Ladeia
Surgiu também outro grande problema: a festa foi aumentando de tamanho, pois todos queriam trazer outros amigos e parentes para participar do evento. Com o tempo foi preciso alugar até sítios para acomodar todo mundo. Com a chegada de pessoas estranhas ao grupo original, começaram a ocorrer vaias na apresentação das músicas, o que era um sacrilégio para os seus idealizadores. Além disso, a perda do controle sobre quem participava, chegou até a gerar umas desinteligências. Infelizmente havia chegado o momento de encerrar o ciclo de quinze anos de festas juninas. Outro motivo, também muito forte, é que o festival, criado com a finalidade das pessoas mostrarem sua arte, virou uma forte competição que poderia até ameaçar a harmonia de um grupo de amigos que se relacionavam há muitos anos.
A festa acabou, o povo sumiu e tudo mofou, mas quem quiser ainda pode acessar o endereço no Google: “Arquivos do Dedo” onde é possível encontrar as belas canções sobre temas juninos, como “O Pau” de Dedo Thenório, “Não Soltem balões” de Oscar de Vito e Sinésio Tezza, “Conta Brasil” de Zeca da Silva e Dedo entre tantas e tantas outras.
Que saudade!
Renato Ladeia
Realmente as festas juninas deste jeito que foi descrito devem ser muito interessantes. Pena que vocês pararam de fazê-las. Que tal resgatá-las?
ResponderExcluirNão imaginava ou apaguei que as nossas festas tivessem acabado por conta das músicas. Achava que não tínhamos mais pernas para a organização que nos demandava uma grande mão de obra. O que ficou mais forte na minha memória foram as preparações em casa e tenho saudade daqueles momentos em que subiamos na cadeira para mexer o caldeirão do quentão, da canjica...o milho, a batata doce chegando do ceasa...o Zeca entregando um monte de caixinhas com doces para a criançada, nós, com pé-de-moleque, paçoca... Mas quando essas imagens vieram tive a sensação de um fase plenamente cumprida. Sem volta. Sem remorsos. Plenamente cumprida. Fomos imensamente felizes!
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