Se vocês pensam que eu vou contar minha droga de vida com todos os detalhes sórdidos, podem ir tirando o cavalo da chuva. Eu vou contar apenas algumas coisas que eu tenho vontade de contar, mas vou omitir e mentir em muitas coisas. Ao contrário do Holdem Caulfield do Apanhador em campo de centeio, a minha infância foi pobre, mesmo tendo estudado uns três anos em colégio particular. Eu não fui expulso como ele, mas fui jubilado depois de repetir duas vezes na mesma série. E foi mais por preguiça mesmo do que dificuldade para aprender. Eu era um perfeito relaxado, se é que é possível ser perfeito nessas coisas. Eu não era burro, mas era indisciplinado. Algumas coisas não entravam na minha cabeça. Em português eu até me defendia, pois lia e escrevia com alguma facilidade e era capaz de ler várias páginas em pé, segurando um livro, sem gaguejar. Em matemática me defendia para o gasto. Mas quando era necessário decorar coisas que não me interessavam? Era um desastre.
Minha primeira professora no curso primário se chamava Edméia, era uma mulher simpaticíssima e meiga. Ela até gostava de mim. Eu posso até jurar que gostava, mas hoje não teria muita certeza não, pois professores bonzinhos gostam de todos os alunos, sejam eles feios, bonitos, burrinhos ou inteligentes. Ela era linda e tinha um sorriso encantador. Eu ficava horas olhando para o seu jeito de falar e sorrir. Era realmente uma mulher fantástica. Pena que ela foi embora antes de terminar o ano. Eu acho que foi para ter um bebê, mas não tenho certeza. Depois veio a dona Mariana, uma mulher também simpática, mas mais madura. Um tipo maternal que usava umas roupas muito sérias. Foi com ela que eu fiz a minha primeira porcaria de redação. Na verdade não era uma redação, mas uma composição. De qualquer forma até hoje eu não sei a diferença entre uma coisa e outra. Ela colocou um quadro pendurado na lousa com uma fazendinha ridícula. Ridícula porque tinha uma casinha boba, uma vaca idiota, um cavalo pangaré, uma galinha e não sei mais o que. Eu muito idiota escrevi uma relação de coisas que tinha no quadro, como “Eu tenho uma fazenda, eu tenho um cavalo...” ao invés de uma composição. Ela leu a minha em voz alta e todo mundo me gozou. Foi a maior humilhação, aliás, a primeira que eu recebi publicamente. Eu fiquei puto da vida. A bosta é que ela não explicou direito o que era composição ou então eu estava tão distraído, como era meu hábito, que não prestei atenção e escrevi aquela esculhambação.
No ano seguinte tive outra professora que devia ter uns oitenta anos ou mais. Era brava e muito feia. Usava uns óculos enormes e prendia os cabelos com um birote atrás da cabeça. Ela usava o tempo todo um ponteiro de madeira para bater nos dedos da criançada que estava conversando ou distraída. Aquilo doía para cacete, principalmente quando estava um pouco frio. Às vezes ela batia com aquele treco na cabeça da gente, mas não muito forte porque ela não era besta. Algumas vezes ela tirava o sapato de salto alto e jogava na molecada. Não falei que era doidona? Já pensaram se machucasse uma criança, que confusão que iria dar? Ela fazia isso porque não conhecia minha mãe. Se eu contasse que ela havia me caceteado a minha mãe virava uma fera. Ela era capaz de ir até a escola e peitar a professora e a diretora, colocando o dedo na cara. Mas era por isso que eu não contava nada, pois tinha a maior vergonha da minha mãe dar escândalo. Não é por nada não, pois a imbecil dessa professora bem que merecia, mas o problema era depois ter de agüentar a gozação da molecada.
Tinha um aluno repetente na classe que era malandro. Ele devia ter o dobro da minha idade, mas não conseguia aprender nada. Além disso, o Zé, esse era o seu nome, andava roubando coisas pelo bairro. Um dia a polícia apareceu na casa dele, que morava muito perto da minha casa. Os policiais o levaram com o pai até a delegacia para prestar depoimento e ele sumiu da escola. Não sei se ficou preso, mas ele não foi a aula nos dias seguintes. A professora perguntou se alguém sabia do José. Eu dei uma de otário e contei para ela o que havia acontecido. Imaginem os tabefes que eu levei do grandão depois da aula, pois alguém da classe me entregou para ele. A minha sorte foi que o meu pai conhecia o pai do sujeito e ele maneirou um pouco na surra. Neste dia aprendi que a duras penas que não é nada bom se intrometer na vida alheia, principalmente em assuntos delicados como esse.
Tive ainda outra professora, chamada Maria Lúcia com quem eu dei a maior mancada, quer dizer, a maior cagada. Não é simbolismo não! Foi no duro. Ela estava explicando uma matéria sobre a história do Brasil e de repente senti umas contrações violentas na barriga. Aí não deu para segurar e pedi para ir ao banheiro. Sabem o que a imbecil da professora disse: - “Espere eu terminar a explicação”. Não deu outra. Diante da fedentina e todo mundo reclamando eu pedi de novo e aí ela mandou que eu fosse depressa. Aí não adiantou mais nada e a única coisa que eu fiz foi me limpar. Fui para casa mais cedo todo sujo de merda. Hoje fico pensando como é ridículo um professor não deixar o aluno sair para ir ao banheiro. Como se as necessidades fisiológicas podem esperar a vontade do professor.
E assim, eu encerro esta crônica num estilo J.D. Salinger, o grande escritor americano, autor do Apanhador no campo de centeio (The catcher in the rye). De quebra, aproveito para agradecer, tardiamente, ao professor Esdras Pinto da Silva, meu professor de Inglês no colégio que, na época, emprestou-me o livro. Para quem não leu, vai aí uma boa sugestão de leitura. É realmente imperdível.
No ano seguinte tive outra professora que devia ter uns oitenta anos ou mais. Era brava e muito feia. Usava uns óculos enormes e prendia os cabelos com um birote atrás da cabeça. Ela usava o tempo todo um ponteiro de madeira para bater nos dedos da criançada que estava conversando ou distraída. Aquilo doía para cacete, principalmente quando estava um pouco frio. Às vezes ela batia com aquele treco na cabeça da gente, mas não muito forte porque ela não era besta. Algumas vezes ela tirava o sapato de salto alto e jogava na molecada. Não falei que era doidona? Já pensaram se machucasse uma criança, que confusão que iria dar? Ela fazia isso porque não conhecia minha mãe. Se eu contasse que ela havia me caceteado a minha mãe virava uma fera. Ela era capaz de ir até a escola e peitar a professora e a diretora, colocando o dedo na cara. Mas era por isso que eu não contava nada, pois tinha a maior vergonha da minha mãe dar escândalo. Não é por nada não, pois a imbecil dessa professora bem que merecia, mas o problema era depois ter de agüentar a gozação da molecada.
Tinha um aluno repetente na classe que era malandro. Ele devia ter o dobro da minha idade, mas não conseguia aprender nada. Além disso, o Zé, esse era o seu nome, andava roubando coisas pelo bairro. Um dia a polícia apareceu na casa dele, que morava muito perto da minha casa. Os policiais o levaram com o pai até a delegacia para prestar depoimento e ele sumiu da escola. Não sei se ficou preso, mas ele não foi a aula nos dias seguintes. A professora perguntou se alguém sabia do José. Eu dei uma de otário e contei para ela o que havia acontecido. Imaginem os tabefes que eu levei do grandão depois da aula, pois alguém da classe me entregou para ele. A minha sorte foi que o meu pai conhecia o pai do sujeito e ele maneirou um pouco na surra. Neste dia aprendi que a duras penas que não é nada bom se intrometer na vida alheia, principalmente em assuntos delicados como esse.
Tive ainda outra professora, chamada Maria Lúcia com quem eu dei a maior mancada, quer dizer, a maior cagada. Não é simbolismo não! Foi no duro. Ela estava explicando uma matéria sobre a história do Brasil e de repente senti umas contrações violentas na barriga. Aí não deu para segurar e pedi para ir ao banheiro. Sabem o que a imbecil da professora disse: - “Espere eu terminar a explicação”. Não deu outra. Diante da fedentina e todo mundo reclamando eu pedi de novo e aí ela mandou que eu fosse depressa. Aí não adiantou mais nada e a única coisa que eu fiz foi me limpar. Fui para casa mais cedo todo sujo de merda. Hoje fico pensando como é ridículo um professor não deixar o aluno sair para ir ao banheiro. Como se as necessidades fisiológicas podem esperar a vontade do professor.
E assim, eu encerro esta crônica num estilo J.D. Salinger, o grande escritor americano, autor do Apanhador no campo de centeio (The catcher in the rye). De quebra, aproveito para agradecer, tardiamente, ao professor Esdras Pinto da Silva, meu professor de Inglês no colégio que, na época, emprestou-me o livro. Para quem não leu, vai aí uma boa sugestão de leitura. É realmente imperdível.
Você sabe que eu tenho taquicardia além de outras ardias e foi com imenso prazer e orgulho que vi a sua menção ao bom e velho The Catcher in the Rye. Eu continuei na vida emprestando o mesmo livro a outros alunos e amigos. Há pouco tempo mesmo comprei uma nova versão em inglês. Obrigado
ResponderExcluirE o bebê já nasceu? E a Célia como está? e a Hamide? E a Lucia
Ah a memória !!! Leia Residuos de Drummond para completar o que eu estou querendo dizer.
Abdalla ?
Nossa, quantos momentos difíceis em suas primeiras letras!
ResponderExcluirPenso que realmente vocês, meninos, são torturados quando retirados das bolas para dentro de uma sala de aula. Diferentemente, um novo mundo parece se abrir às meninas em suas relações com as professoras. Quase sempre...
Vejo isso em minha sala de aula. Vejo o quanto sofro prá entender o que os meninos fazem em minha sala se o que menos querem é o contato com as letras... Adoram a quadra. Detestam o quadro.
Abrs... as suas meninas tb. Geanete