Aquela senhora tinha um piano, mas para que serve um piano? Diz um poema do Alberto Caieiro, heterônimo de Fernando Pessoa. Para mim que ao passar pela Rua João Pessoa e ouvia em meio ao barulho do trânsito o suave som de um piano, servia e muito para abrandar a aridez da cidade. Quem era a senhora do piano vim sabê-lo algum tempo depois. Era Odete Tavares Bellinghausen, a primeira professora de piano da cidade e em cujas mãos muitas crianças passaram para aprender as primeiras notas musicais. A cidade foi crescendo e a casa dela, que em tempos passados desfrutava um ar ainda bucólico, transformou-se em passagem obrigatória de carros e pedestres. O comércio foi se ampliando e com ele mais movimento. Mas dona Odete, continuou o seu cotidiano entre o grande jardim com seus caramanchões e o piano. Um dia atiraram uma pedra na sua janela, que quebrou a vidraça e caiu bem em cima do piano, um velho alemão de meia cauda. Uma ato de absurda agressão, sinal de tempos difíceis. Aquilo poder