UM CRIME QUASE PERFEITO
Todas as sextas-feiras ele fazia
serão. Ligava para Margarete e dizia que tinha uma reunião de final de semana
para acertar os detalhes para a segunda feira. Além disso, sempre dizia, “vou
para o happy hour com o pessoal do escritório”. Em verdade, era tudo conversa
fiada. Margarete sempre acreditava ou fazia de conta, pois por mais que procurava
se enganar, o cheiro de perfume de mulher nas roupas dele era indício de que
havia algo mais do que um inocente encontro com a turma do escritório. Mas
ela era uma mulher conformada com a vidinha que levava. Não faltava nada em
casa. Podia comprar suas coisinhas, ir ao cabelereiro, fazer as unhas e ainda
tinha a sua mãe que morava com eles e os filhos. Nestor era um bom marido e não
havia do que reclamar.
Na sexta-feira
ele chegava por volta das onze e meia. Tomava um banho rápido e caia na cama,
pois no sábado, bem cedinho, tinha o compromisso de ir com a família para a
chácara em Ibiúna. Era uma rotina. Levantavam cedinho, mulher, crianças e a
sogra no carro e "pé na estrada". Mas neste sábado alguma coisa parece que estava
dando errado. Viu um sapato de salto alto embaixo do banco do passageiro.
Começou a suar
frio. Será que a Doroty, sua secretária, tinha bebido demais e esquecera o
sapato no carro. Não é possível que ela tenha aprontado essa comigo, pensou com
seus botões. Ela estava mesmo alta e estava com um sapato na mão. Será possível
que a cretina largou o outro pé no carro? Calma, calma Nestor. Nada de
desespero, que não vai resolver o problema. Maquinou uma solução. Distraiu a
Margarete, pegou o sapato e o colocou do seu lado e ficou esperando uma
oportunidade para distrair o pessoal, quando viu uma fazenda com o gado
pastando num lugar bucólico.
- Olha que interessante esse
lugar! Disse apontando para o lado
direito.
Todos olharam
e ele, matreiramente, jogou o sapato pela sua janela. Ainda bem que ninguém
viu, pensou. Doroty que se vire sem o sapato. Tudo bem eu compro um par novo
para ela. O importante é que ninguém viu. Sentiu-se aliviado. Era outro homem. Nunca,
nunca mais vou permitir que ela faça isso comigo novamente. Acho que nem vou
mais sair com ela. Vou acabar com esse relacionamento. A Margarete não merece
isso. Onde já se viu deixar a marca do
crime em meu carro! Não queria magoar a Margarete, pois era uma boa esposa,
recatada e do lar. Não era nem ciumenta. Um amor de mulher. Devia dar graças a
Deus...
- Não vamos dar uma parada Nestor?
O posto já está perto. Avisou Margarete.
- Claro, claro, querida. Vamos
parar sim.
Nestor
estacionou o carro e desceu. Deu uma espreguiçada e olhou o horizonte enquanto
o pessoal saia do carro. Nisso ouviu sua sogra gritando.
- Cadê meu sapato? Onde está meu
sapato? Eu tirei aqui no carro. Estava aqui, nos meus pés.
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