MARIA DOMITILA, A NOSSA ANNA BOLENA.
Quando li o romance histórico A
marquesa de Santos com quinze ou dezesseis anos, fiquei espantado com o nosso
primeiro imperador. No dia da
Independência despachou o seu ajudante de ordens para marcar um encontro com a
Maria Domitila, uma bela moça separada do marido e pertencente a uma
tradicional família paulista. Ficou apaixonado e sempre que podia, arranjava
uma desculpa para vir até a pauliceia para rever a amante.
Como a viagem a cavalo do Rio a
São Paulo levava quase uma semana, resolveu levá-la para a corte com toda a
família. Para isso adquiriu a chácara dos Porcos, que ficava a uma hora da residência
imperial. Não demorou muito para Dom Pedro colocá-la como dama de companhia da
imperatriz Leopoldina, que sem dúvida deve ter ficado p. da vida. Em seguida o
pai, o Coronel João de Castro Canto e Mello virou barão, dando status de
nobreza a toda a família.
Ela também foi agraciada com o
título de Baronesa de Santos de depois Marquesa, uma homenagem sacana ao
Ministro José Bonifácio de Andrada e Silva, cuja família era de Santos.
Bonifácio era um crítico do comportamento do imperador, fazendo o papel semelhante
ao de Thomas Morus, intelectual inglês e conselheiro do Rei Henrique VIII, que
orientava o rei para evitar desvios de comportamento.
Como Henrique Tudor, Dom Pedro
reconheceu como legítima uma filha de sua amante, que recebeu o título de duquesa
de Goiás. Menos cruel do que o inglês, nosso fogoso imperador limitou-se em
desprezar a esposa, humilhando-a na corte. De saúde frágil morreu jovem,
deixando um filho herdeiro. Era a oportunidade da nossa Anna Boleyn para
oficializar o relacionamento com o imperador.
Mas Dom Pedro preferiu seguir as
formalidades monárquicas e tratou de procurar outra esposa na Europa. Isso
prova que ele era bem mais pragmático do que o Tudor. Maria Domitila não foi
acusada de traição ou decapitada, mas foi despachada para sua terra natal onde
passou o resto da vida no ostracismo. Em tese, pois casou-se com um nobre
paulista, o Tobias de Aguiar e reinou na sociedade paulistana e teve mais uma
penca de filhos. Virou uma lenda e até hoje muita gente acredita que ainda teve
tórridos encontros com o imperador no museu do Ipiranga, que na época, ainda
não existia.
Dom Pedro casou-se por
procuração com uma bela nobre italiana e tentou manter o trono, mas sem
sucesso. Entre ficar e ser deposto pela antecipação da república, preferiu
deixar o filho, ainda bebê, como herdeiro e retornar a Portugal e restaurar o
trono para sua filha, casada com dom Miguel, seu irmão.
Assim, a história de Anna Boleyn
ou Bolena, também chamada de Ana dos Mil Dias, guarda grandes semelhanças com a
nossa Maria Domitila, pelo seu charme, sensualidade, esperteza e família
interesseira, que seduziu e manteve o imperador sob o seu controle por um bom
tempo e só não virou imperatriz por causa da forte oposição na corte e no
parlamento.
Bela síntese do romance de Paulo Setúbal, Renato. Parabéns.
ResponderExcluirObrigado pela leitura Brandão. A crônica sobre Piedade não está publicada por algum lapso meu. Grande Abraço.
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